A partir da reflexão sobre o conceito de angústia, tal como proposta pela primeira vez por Soren Kierkegaard, como a disposição afetiva que abre diretamente a experiência da condição humana, o curso discute o modo como o sofrimento existencial se mostra nos chamados “transtornos psíquicos” e de que modo a clínica psicoterápica abre espaço para o cuidado com tais questões.

O presente curso visa refletir sobre dois aspectos fundamentais do sofrimento psíquico no mundo contemporâneo: a depressão e o tédio. Apesar de intimamente relacionados, cada um se refere a um estado particular. Enquanto a depressão pode ser entendida como um modo de sofrimento no qual a vontade e o querer se encontram obstruídos na sua possibilidade de realização, o tédio, por sua vez, fala de uma afetividade fundamental do nosso mundo com a qual o existente sempre se relaciona de um modo ou de outro.

Há na obra de Heidegger e Merleau-Ponty uma compreensão do lugar privilegiado do fenômeno artístico para a constituição de nossos modos mais próprios de relações com os fenômenos, com os outros, com o mundo. Seja na compreensão da essência da obra de arte como o pôr-se em obra da verdade ou na explicitação da essência poética da linguagem, Heidegger por um lado vê na arte uma ligação privilegiada com o vir a ser daquilo que por si mesmo se mostra. Merleau-Ponty, por outro lado, não deixou de acompanhar em O olho e o espírito e em A dúvida de Cézanne o quanto a visão humana não tinha como ser pensada às últimas consequências a partir da ideia de uma acuidade visual independente da própria carnatura do real. Nosso intuito no presente curso, portanto, é acompanhar as posições dos dois, sempre acentuando ao mesmo tempo o lugar da relação com os fenômenos nos processos terapêuticos em geral.

O pensamento tardio de Martin Heidegger traz consigo todo um conjunto de determinações sobre a condição contemporânea. Partindo de uma compreensão do peso inicial da tradição sobre a própria constituição de nossas possibilidades de ser, Heidegger evidencia em uma série de contextos o quanto permanecemos presos em decisões históricas que continuam promovendo as bases para os nossos projetos existenciais em geral.

​SEGUNDA PARTE

Este curso visa investigar temas e autores relevantes à construção de uma História da Filosofia. Partindo de pressupostos hermenêuticos, como a apropriação de problemas e temáticas tendo em vista o pertencimento de cada autor(a) a uma história do próprio pensamento, partiremos do registro grego do nascimento da filosofia – marco de nossa cultura ocidental – para investigar as questões mais recorrentes no decorrer do pensamento filosófico de referencial europeu e ocidental.

Percorrer novamente a obra de Gaston Bachelard, após 20 anos, tem sido uma experiência muito rica. Após ter me dedicado por um longo período à obra noturna do filósofo nos primeiros anos de minha formação em um grupo de estudos conduzido pelo professor Nichan Dichtchekenian, reorientei meus estudos para o pensamento de Martin Heidegger, autor a quem venho me dedicando nas últimas décadas. Voltar os olhos para a Poética do Espaço após essa jornada ampliou radicalmente a minha compreensão sobre a importância dessa obra e seu alcance. Em especial sua contribuição para a discussão acerca do método clínico em psicoterapia. O grupo de leitura e discussão que se inicia neste semestre marca a retomada desse trabalho.

​​Ser e Tempo é certamente uma das obras mais importantes, senão a mais importante do século XX. Reunindo em si as tradições da fenomenologia, da hermenêutica e da filosofia da existência, Heidegger empreende na obra algo que funciona ao mesmo tempo como uma resposta contemporânea ao problema da verdade, na mesma medida em que acentua a impossibilidade de se escapar, na consideração de tal problema, da historicidade que acompanha tudo o que é e pode ser. A obra, assim, nos fala a princípio de nossa absorção em uma capa de preconceitos historicamente constituída, assim como nos remete para uma experiência existencial capaz de promover o aparecimento de um campo de liberdade em relação a tal absorção.

O curso possui como proposta central operacionalizar o que poder-se-ia entender por hermenêutica decolonial com vistas a uma apropriação crítica dos pensamentos de Friedrich Nietzsche, Hannah Arendt e Jacques Derrida. Ainda que Derrida seja um pensador de origem argelina, ele, Arendt e Nietzsche se notabilizaram por pensar a partir da Europa ocidental e seus referenciais semântico-conceituais.

O curso se propõe a compreender a expressão “corpo fechado”, que é utilizada em contexto de terreiros de Candomblé, Umbanda, Omolokô e demais tradições religiosas de matrizes africanas, como uma dinâmica que não suprime a vulnerabilidade corpórea, porém potencializa modos político-existenciais de regulação das relações humanas em meios aos quais a exposição às alteridades e ao mundo não deixa a vulnerabilidade se transformar em precariedade. Trata-se de uma arte de viver que poder-se-ia entender como estética da reexistência, uma vez que exercida em contexto histórico no qual a alteridade se apresenta também como índice de violência.